
Todas as
organizações precisam de liderança. Não há nada no universo que exista sem uma
ordem existencial. Da mesma forma, a igreja do Senhor é regida por líderes que
a conduzem e zelam pela fidelidade e firmeza no caminho estabelecido pelas
Sagradas Escrituras.
Quando examinamos
a estrutura da igreja primitiva, observamos pessoas que desempenharam papéis
vitais na orientação espiritual e no governo da comunidade de fé. Entre esses
líderes, destacam-se os presbíteros, cuja função era multifacetada e
profundamente enraizada nas Escrituras.
O termo
“presbítero ou ancião” não é meramente uma designação de idade avançada, mas
sim uma indicação de uma posição de liderança e autoridade espiritual dentro da
comunidade cristã. Eles são os “anciãos” da fé, cuja experiência e sabedoria
são fundamentais para guiar e nutrir a congregação (1Tm 3.6).
Sob a autoridade
de Cristo, os presbíteros exercem supervisão e liderança na igreja local,
assemelhando-se ao papel de pastores zelosos que cuidam de seu rebanho (1Pe
5.2). Sua responsabilidade não se limita apenas ao ensino da Palavra (papel
este que nas Igrejas Presbiterianas é de responsabilidade primária dos
pastores), mas também inclui a proteção espiritual do rebanho contra falsos
ensinamentos e desvios doutrinários (At 20.28).
Como líderes
espirituais, os presbíteros são chamados a serem exemplos de fé, conduta e
integridade para a igreja (1Tm 4.12). Sua vida e caráter devem refletir os
valores do evangelho, inspirando os cristãos a seguirem seu exemplo enquanto
buscam a santidade e a maturidade espiritual.
Além disso, os
presbíteros desempenham um papel crucial na tomada de decisões dentro da
igreja, atuando como conselheiros sábios e discernindo a vontade de Deus em
questões de disciplina, doutrina e missão (Tg 1.5), junto com o pastor.
Em última análise,
os presbíteros são chamados a serem fiéis administradores dos mistérios de
Deus, conduzindo a comunidade de fé em direção à unidade, crescimento e amor
mútuo (1Cor 4.1-2). Sua liderança é essencial para o desenvolvimento espiritual
da igreja e para a glória de Deus em meio a igreja.
I. A emergência
dos presbíteros na igreja primitiva
No início da
chamada igreja primitiva, um fenômeno intrigante surge: a promoção dos
presbíteros, cujo papel se manifesta em diferentes momentos e contextos ao
longo do livro de Atos. Embora Jesus tenha prometido sua presença constante em
meio a sua igreja (Mt 28.20), sua partida deixou questões práticas em aberto
quanto à organização da igreja local. Nesse vácuo, os apóstolos assumiram uma
posição de liderança inicial, proclamando o Evangelho e fornecendo orientação
espiritual à comunidade em Jerusalém. No entanto, à medida que a igreja crescia
e se expandia, novos desafios surgiam, exigindo uma estrutura mais abrangente
de liderança (At 6.1-7). É nesse contexto que os presbíteros emergem,
inicialmente como colaboradores práticos, encarregados de questões cotidianas
como a distribuição de recursos para os necessitados. Sua presença, embora
discreta, revela uma transição gradual de autoridade na igreja primitiva, à
medida que os apóstolos se retiravam e os presbíteros assumiam um papel mais
proeminente na liderança e orientação espiritual da igreja. Essa transição é
evidenciada não apenas em Jerusalém, mas também em outras congregações, onde os
presbíteros desempenharam um papel vital na estabilização e crescimento da fé
cristã.
II. O
estabelecimento dos presbíteros nas congregações gentílicas
À medida que o
evangelho se espalhava para além dos limites de Jerusalém, novos cristãos
gentios surgiam, enraizando-se em cidades como Antioquia, onde profetas e
mestres, incluindo figuras relevantes como Paulo e Barnabé, serviam à
comunidade em seu crescimento espiritual. Ao regressarem de suas missões, após
fortalecerem os cristãos, instituíram presbíteros em cada igreja,
confiando-lhes a responsabilidade espiritual e pastoral (At 14.21-23).
Em um episódio
marcante durante sua terceira viagem missionária, Paulo, em Mileto, convoca os
presbíteros da igreja em Éfeso, instruindo-os sobre sua missão e destacando a
importância de seu papel como pastores do rebanho de Deus, uma responsabilidade
sagrada que demanda cuidado e dedicação (At 20.17-35). Essa orientação ressoa
em suas cartas posteriores, como em sua correspondência a Tito, onde insta-o a
estabelecer presbíteros em cada cidade, destacando a importância desse papel na
manutenção da ordem e da saúde espiritual das igrejas locais (Tt 1.5-9).
O apóstolo Pedro
também compartilha suas instruções aos presbíteros, exortando-os a pastorearem
o rebanho de Deus com zelo e integridade, como modelos do rebanho, e
prometendo-lhes uma coroa de glória quando o Supremo Pastor se manifestar,
veremos esse texto a diante. Ainda mais orientações pastorais refletem nas
palavras de Tiago, que descreve os presbíteros em um contexto pastoral,
destacando seu papel na oração pelos enfermos e no acompanhamento espiritual
dos crentes (Tg 5.13-16).
Ao observarmos
esses ensinamentos, podemos explorar mais profundamente as funções dos
presbíteros, dentro do contexto da liderança e do cuidado espiritual das
comunidades cristãs primitivas.
III. As
responsabilidades dos presbíteros: Uma rápida análise de Atos 20.28 e 1Pedro
5.1-5
Nos textos de:
Atos 20.28: “Cuidem
de vocês mesmos e de todo o rebanho no qual o Espírito Santo os colocou como
bispos, para pastorearem a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio
sangue.”
1Pedro 5.1-5: “Aos
presbíteros que há entre vocês, eu, presbítero como eles, testemunha dos
sofrimentos de Cristo e, ainda, coparticipante da glória que há de ser
revelada, peço que pastoreiem o rebanho de Deus que há entre vocês, não por
obrigação, mas espontaneamente, como Deus quer; não por ganância, mas de boa
vontade; não como dominadores dos que lhes foram confiados, mas sendo exemplos
para o rebanho. E, quando o Supremo Pastor se manifestar, vocês receberão a
coroa da glória, que nunca perde o seu brilho. Peço igualmente aos jovens:
estejam sujeitos aos que são mais velhos. Que todos se revistam de humildade no
trato de uns com os outros, porque ‘Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos
humildes.’”
Encontramos uma
compreensão mais clara das funções dos presbíteros na igreja primitiva. Paulo,
ao dirigir-se aos presbíteros de Éfeso em Atos 20, os exorta a atender tanto a
si mesmos quanto ao rebanho, lembrando-lhes que foram constituídos bispos, com
a responsabilidade de pastorear a igreja de Deus. Aqui, vemos uma correlação
entre os termos presbíteros e bispos, onde ambos se referem a uma mesma função
de supervisão e pastoreio do rebanho. A expressão presbítero, embora denotando
uma condição de maturidade na fé, é usado para designar aqueles que foram
instituídos como supervisores da igreja em uma determinada localidade. Por sua
vez, o termo bispo lembra o aspecto do trabalho desses homens como
supervisores. Portanto, presbíteros e bispos são termos intercambiáveis,
referindo-se ao mesmo ministério e não a cargos distintos em uma hierarquia
eclesiástica. Desde modo, os presbíteros são homens maduros na fé, investidos
com a autoridade de supervisionar e pastorear a igreja conforme a vontade do
Senhor.
Em suma, os
presbíteros desempenham um papel multifacetado na igreja local, auxiliando os
pastores nos serviços da igreja. Paulo, em suas orientações a Timóteo, discute
as qualificações para bispos e diáconos, enfatizando a importância de honrar os
presbíteros. Além disso, os presbíteros são encarregados de pastorear o rebanho
espiritualmente e zelar pela vida dos crentes, conforme instruções de Pedro
sobre o pastoreio. Embora a carta aos Hebreus não mencione explicitamente os
presbíteros, destaca-se a responsabilidade dos pastores na condução dos
cristãos. Paulo também instrui sobre a devida honra aos presbíteros,
reconhecendo aqueles que lideram bem a comunidade. Ele enfatiza que a atividade
pastoral dos presbíteros envolve não apenas ensino e orientação espiritual, mas
também a liderança, exercida com diligência. Aos Tessalonicenses, Paulo exorta
a tratar com respeito aqueles que lideram na comunidade, reconhecendo sua
importância na orientação espiritual do povo de Deus.
Por sua vez, o
texto de 1 Pedro 5.1-5 oferece uma visão profunda sobre as características e
responsabilidades dos presbíteros na igreja cristã primitiva, fornecendo
orientações valiosas que permanecem relevantes para a liderança eclesiástica
contemporânea. Os presbíteros são chamados a exercer a autoridade de maneira
gentil e altruísta, não por repressão, mas por prontidão em servir como
exemplos para o rebanho de Deus. A ênfase recai sobre a humildade, um traço
essencial para a liderança cristã, destacado pelo convite de Pedro para que os
presbíteros pastoreiem o rebanho de Deus “não como dominadores dos que lhes
foram confiados, mas sendo exemplos para o rebanho.”. Essa abordagem
reflete o modelo de liderança de Jesus, que veio não para ser servido, mas para
servir. Além disso, os presbíteros são chamados a exercer vigilância sobre o
rebanho, cuidando e protegendo-o dos perigos espirituais que possam surgir. Logo,
este texto ressalta a importância da responsabilidade pastoral, incentivando os
presbíteros a exercerem sua liderança com diligência, sabendo que receberão a
recompensa do supremo Pastor quando Ele se manifestar. Assim, os presbíteros
são chamados a desempenhar seu papel com integridade, humildade e dedicação ao
serviço de Deus e ao cuidado do Seu povo.
IV. A
diversidade de presbíteros
As Escrituras, no
Novo Testamento sempre mencionam presbíteros em pluralidade, destacando a
presença de um grupo deles em cada localidade, como vemos em Atos 14.23 e Tito
1.5. Em 1Timóteo 4.14, o apóstolo Paulo instrui o jovem pastor Timóteo a não
negligenciar o dom recebido por meio da imposição de mãos do presbitério. Essa
diversidade de presbíteros não é apenas uma questão organizacional, mas também
uma necessidade pastoral. Os presbíteros, antes de serem pastores para o
rebanho, também precisam ser pastoreados. Essa configuração permite que cuidem
uns dos outros, fortalecendo-se mutuamente para, então, cuidarem do rebanho.
Nesta matéria, o apóstolo Paulo exorta os presbíteros de Éfeso em Atos 20.28,
ressaltando a importância de cuidarem de si mesmos e do rebanho. A pluralidade
traz benefícios, como divisão do trabalho, proteção, restauração, apoio mútuo e
diversidade de dons e serviços (Ec 4.9-12).
V. A Confissão
de Fé de Westminster
A Confissão de Fé
de Westminster e os Catecismos são os símbolos de fé para as igrejas
Presbiterianas do Brasil, delineando nossa doutrina. Enquanto essas doutrinas
abrangentes fornecem uma base sólida, é vital entender como os princípios
reformados moldam o papel dos presbíteros na vida da igreja.
No contexto
reformado, o governo da igreja é representativo, caracterizado pela liderança
colegiada exercida por presbíteros. Embora os pastores desempenhem um papel
crucial na pregação e ensino, os presbíteros compartilham a responsabilidade
pela administração da igreja. Além das funções tradicionais, como
aconselhamento e liderança espiritual, os presbíteros desempenham diversos
papéis essenciais na vida da igreja.
Primeiramente,
eles são encarregados da disciplina eclesiástica, supervisionando a conduta dos
membros e aplicando medidas corretivas quando necessário, de acordo com os
princípios bíblicos e os padrões estabelecidos pela confissão de fé. Isso não
apenas promove a santidade e a integridade dentro da congregação, mas também
protege a unidade e a pureza doutrinária da igreja.
Segundo, os
presbíteros têm um papel fundamental de salvaguardar a doutrina. Embora os
pastores sejam os principais mestres e pregadores, os presbíteros compartilham
a responsabilidade de garantir que o ensino bíblico seja preciso e fiel às
Escrituras. Eles estão atentos às doutrinas emergentes e às interpretações questionáveis,
intervindo quando necessário a fim de preservar a verdade revelada.
Além disso, outro
aspecto basilar do ministério dos presbíteros é o cuidado pastoral. Eles não
apenas oram e aconselham os membros em momentos de necessidade, mas também os
visitam em hospitais, lares e onde se fizer necessário. Esse cuidado atencioso
demonstra o amor de Cristo pela congregação e fortalece os laços de comunhão e
apoio mútuo. O presbítero, tal como um pastor de ovelhas que está sempre atento
as necessidades do rebanho, deve antever o perigo, a necessidade ou o problema
e agir, mesmo que nos bastidores, para garantir o melhor aos que lhe foram
confiados.
Além disso, os
presbíteros desempenham um papel significativo na administração dos sacramentos
da igreja. Embora a responsabilidade pela administração geralmente recaia sobre
os pastores, os presbíteros colaboram na preparação e logística do batismo e da
Ceia do Senhor, garantindo que esses momentos sagrados sejam conduzidos com
reverência e significado espiritual. No caso da Ceia do Senhor, são os
presbíteros responsáveis por impedir que os membros em disciplina ou faltosos
tomem os elementos da Ceia, acumulando para si ainda mais pecados.
Em resumo, os
presbíteros desempenham um papel multifacetado e essencial na vida da igreja
reformada. Como colaboradores dos pastores, eles compartilham o fardo do
ministério pastoral, assumem responsabilidades garantindo que a igreja seja um
lugar de verdade, amor, adoração e cuidado mútuo, conforme estabelecido pelas
Escrituras Sagradas e claramente explicada na Confissão de Fé de Westminster.
Conclusão
Conclui-se tanto
na primeira carta a Timóteo quanto na carta a Tito, o grande apóstolo Paulo
descreve as qualificações para os presbíteros. As listas em 1Timóteo 3.1-7 e
Tito 1.5-9 enfatizam principalmente o caráter e a moral do presbítero mais do
que a habilidade no ensino. O apóstolo Paulo instrui que os presbíteros sejam
primeiramente experimentados e que sua designação seja feita com cuidado, como
indicado em 1Timóteo 3.10 e 5.22. Essa responsabilidade exige cautela,
discernimento e sensibilidade à direção de Deus. O serviço dos presbíteros é
importante para o crescimento saudável da igreja, só por esse motivo já é
necessário escolher bem. Além disso, aqueles que não se sentem chamados, em
hipótese alguma devem aceitar esse ofício (Tg 3.1), pois cuidam do rebanho como
responsáveis diante de Deus.